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domingo, 30 de agosto de 2009

Da alegria que não está nos dias úteis

Para quem ainda não foi, aconselho. Amsterdam é uma cidade onde os valores foram ousadamente postos em causa. A aplicação dessa reflexão sente-se e vê-se no ambiente descontraido de cidade ocidental. É diferente de tudo o que vi. A red light, os coffeeshops, as bicicletas... Agora que tento dizer qualquer coisa sobre a cidade, nada me sai que não seja descontração e liberdade de ousar. Bons pequenos almoços gratuitos, o museu Van Gogh, os canais, os barcos, barquinhos, barquetes, negócio, também, mas com estilo. Praia a 25 minutos de comboio. Acima de tudo, sem a intenção clara de ir a Amsterdam à Maria Juana ou às outras meninas, o ambiente da cidade não nos faz acreditar nem desacreditar que os outros estão lá para isso. Ou por isso. A primeira impressão foi de uma cidade séptica. Que mudou radicalmente nas primeiras horas. Mas não é nada que se conte, não são grandes obras, nem ser grande no tamanho ou na beleza, nem nada soberbamente antigo ou incrivelmente moderno, é funcional. Ponto. As bicicletas, aos milhares, são bemvindas e prioritárias. Há semáforos para elas. Mesmo no comboio onde a pica obriga um casal de velhotes neozelandeses a desandar por escadas íngremes com 6 malas grandiosas e a 5 minutos do fim da viagem, por estarem em lugares para bicicletas! Ir a Amsterdam e não andar de bicicleta é ir a Roma e não ver o Papa. Tudo fica incrivelmente ao alcance, sem necessidade de um motor ou grandes engenhos. Na red light as meninas são novas e mexem-se bem. Algumas dançam em biquini ou lingerie ao som de um rádio-cassetes elementar. Música que egoísticamente não partilham com o transeunte. É tão natural como impressionante. Aparenta dignidade. As mais velhas assomam à porta dirigindo-se imperativamente aos potenciais clientes. Escondem-se atrás da cortina escura, que também esconde outras coisas, quando vêem um flash.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Destes amigos, do silêncio, à noite II

A colecção de livros Europa América era minha amiga de juventude. A lista de livros editados pela colecção que figurava na última página de cada livro, era um fascínio. A Jane Austen, o Júlio Dinis, o Camilo Castelo Branco e o Eça de Queiroz insistiam que eu lê-se todo o seu cardápio. Não consegui acabar. Mas tenho que deixar uma nota para "A queda de um anjo" e para "A morgadinha dos Canaviais", meus preferidos dessa época. Mas depois entra em cena o Virgílio Ferreira, no 11º ano. Foi a entrada num admirável mundo novo. Passava-se em Évora, onde o pai andou na tropa. Por um lado, o diálogo existêncialista. Por outro a consciência da existência de um mundo contemporâneo na literatura. Passei então a voltar-me para autores contemporâneos. Desilusão. Não nos livros. Mas a panóplia de oferta é tão exponêncialmente maior que morreu para sempre a vontade de menina de ler todos os livros!

Agora, estou numa fase de Português-político-light. Já não posso com livros em inglês. Os que me têem dado entusiasmo são umas importações do Fernando Dacosta sobre o Salazar e outras personagens da vida portuguesa e as memórias políticas do Diogo Freitas de Amaral, que o senhor tem uma memória! De férias, emprestado, vou levar “Sem medo” da Rita Delgado. A ver o que aí vem!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Destes amigos, do silêncio, à noite I

Quando o pai ia ao Porto, levava quase sempre um papelinho com o nome de um livro para passar na livraria Lello, que ficava perto do Santo António e dava jeito. Eu nunca fui lá! O pai à falta de ideias e tempo deixou de me dar prendas que não dinheiro nas ocasiões especiais. Por isso não me esqueço do dia em que ele não levou papelinho nenhum e me apareceu sem ocasião especial com os Sonetos da Florbela Espanca...! Ah, e as regras. Primeiro enquadrar o autor na época, nunca saltar páginas e nunca ler o fim. E já houveram fins que me deixaram de boca aberta. Um fim que recordo especialmente foi o do "Trovão ouve o meu grito" de Midred D. Taylor, ganho na biblioteca de turma do 6º ano. Cada um dava 50 escudos semanais para comprar livros e no fim do ano dividiram-se os livros comprados por toda a turma. Tratava da tristeza de ser uma família de negros americanos que vivia do trabalho no algodão, nas décadas de 30, 40 e das formas de felicidade simples que se arranjam, segundo a condição. Três vezes o li e 3 vezes acabei com a boca literalmente aberta com vontade de correr a pontapé aqueles yankees brancos racistas da treta ...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Destes amigos, do silêncio, à noite

Livros é uma cena fixe! Como diria a Larinha (do alto dos seus 4 anos) é divertido! Não que leia muitos, que não há tempo ou assim se diz. É por fases e épocas. Às vezes leva meses até organizar uma rotina em que os livros entrem. Mas com livros tenho histórias tão díspares e estranhas que o inacabado bouquet literário é como se fosse um velho amigo de infância. Primeiro a mania de comprar o livro para ler (ou medo de gostar tanto e não o ter depois para rever). Não foram muitos os que li emprestados e parece que cismo em esquecê-los com mais facilidade... mania. Depois há aquela sensação de estar numa biblioteca. Aquele cheiro. Em que as veias incham ligeiramente, o cérebro parece que também e a decisão vem a seguir: querer ler todos! Depois sair da biblioteca para a realidade. Trash! Acabou! Pelos 16 anos tinha uma profissão de eleição secreta, que era fazer os textos iniciais de enquadramento do autor, nos livros! Estudar um autor até às ultimas consequências para poder falar do gajo! Houve também uma época de leitura às escondidas. Várias, até. Uma, reincidente. Quando ia dormir as 10, 11 da noite, ficava a ler até que o pai vinha ver se estava tudo bem e eu fingia que já estava a dormir. Por ser muito tarde e por ser esse o meu dever. A outra quando encontrei por casa o Fanny Hill - diários de uma prostituta de John Cleland. Escondia-o cautelosamente debaixo do colchão todas as noites, depois da leitura. Como se a mãe não fizesse a cama e mudasse os lençóis todas as semanas!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Da dificuldade de entender certas e determinadas opções

Nos Estados Unidos, Obama quer desenvolver a par do privado, um sistema de saúde público! Até aí tudo bem. Agora explicar aos estadunidenses que uma parte choruda dos seus impostos vai passar a ser investida em saúde pública quando eles já pagam balúrdios pelo seguro privado é que é mais difícil... De mim, Obama levou perplexidade! Os estadunidenses levaram primeiro um olhar de soslaio, depois um mais atento, depois uma data de palavrões feios, depois um pouco de reflexão e... §0#@-$€! O que vi foram milhares de pessoas em fanática apoteose contra um sistema de saúde público. Consigo entender os seus argumentos mas é-me difícil tolerar. 91% dos américas têm um seguro de saúde e portanto acesso aos cuidados de saúde. Mas e os outros 9%. Não. Não estamos a falar de patacos, que esses felizmente não entram no céu! Mas de vidas! E de ética e de solidariedade! E de um assunto e uma mudança que merece, no mínimo, ser debatida até à exaustão! Eu também venho de um sítio onde a solidariedade do povo existe. Se calhar é por isso. Não sei. Mas, o que me pôs os nervos na pele não foram as opiniões contra. Foi o entusiasmo e o fanatismo com que o Tio Sam veio à rua dizer não! Que falta de solidariedade... Tchhhh Nheccc

domingo, 16 de agosto de 2009

Do dia em que Deus criou o homem

E ao sétimo descansou... O Domingo é aquele dia em que não apetece fazer nadinha. É que nadinha. Não que o tenha em grande consideração como dia da semana... Como tenho que viver todos, vivo todos, apesar de gostar um bocadinho menos da Segunda. Talvez por ser a seguir ao Domingo. Em que não apetece fazer nadinha. A Terça é dia de acção, sem pensamento. Talvez por ser a seguir à segunda que é a seguir ao Domingo. A Quarta é o princípio, apesar de ser o meio. É o dia em que de tão ao centro ser, faz pensar no Domingo, na Segunda, nos outros todos... Na Quinta há que produzir mas com a alegria do Domingo que aí vem. Na Sexta, fecha-se um ciclo. Um ciclo de mentira... Em que a Segunda é afinal primeira, a Terça é afinal segunda, a Quarta, terceira e por aí fora... E o Sábado? Dia de toda a expectativa! Dia contraditório de tão grande ser... de pôr o lenço na cabeça, a casa num brinco e de pôr a melhor farda de lantejoulas e de mostrar ao mundo que o que se fez de Segunda a Sexta, que afinal era de Primeira a Quinta, valeu a pena! Pela liberdade de poder passar o lenço e de decidir se a melhor farda vai ter lantejoulas ou não. De tão grande, se torna tão pequeno, o Sábado! E depois o Domingo... E, podia tudo isto ser verdade, não fosse a minha origem desmenti-lo. Que primeiro a obrigação, só depois a devoção. Que nenhuma tarefa tem hora destinada, apesar de admitir que algumas dão mais jeito fazer a certas horas e em certos dias. Que o trabalho é para ser muito! E dividido por sete dá mais... Daí que, Segundas a Domingos que goste mesmo, são aqueles em que estou de férias.

sábado, 15 de agosto de 2009

D'Um ano que não posso negar

Um ano, uma imagem!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Das pontuais-crescentes irritações sociais

Não sou a fã nº1 de comentar experiências que não tive. Mas esta puxa-me ao comentário. É aquele pessoal que se mete a alugar uma limusina e vai de andar às voltas pela cidade. Em havendo experiências-não esta é, certamente, uma não-experiência! Primeiro, uma limousine é um carro. E qual é a função do carro? Transportar. Se possível, de forma económica e rápida, de um local a outro. Não confere. Depois há a coisa de que já que alugar uma limusina é caro e aquilo até deve ser confortável por dentro, porque é que quem aluga a dita, se põe aos gritos fora dela? Ele é pelo tejadilho, ele é pela janela... Se é para se mostrar, há aqui uma clara falha do sector da limusinaria! Era fazer limusinas transparentes! E assim o cliente pode apreciar o conforto e dar show off, 2 em um, sem a necessidade de sobre-esforçar o couro e as cordas vocais! Transparência e altura. Pelo menos dois metros. Se é para se mostrar e apreciar a música electrónica de mil nove e 95, o cliente devia poder dançar envolto de transparência. Que assim, dá show, permite dançar e o tímpano do transeunte fica liberto para outros agradáveis sons. Situação clara de win-win! Se algum limusineiro me estiver a ouvir, é de aproveitar... ideias brilhantes para o sector da limusina não me saem todos os dias!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Das coisas que faria com um grupo adverso I

Já que o artigo anterior foi escrito em meal time, com o risco inerente de sair trapalhão, arrisco uma explicação. Começa mal pelo conceito, o original era: o que farias, mesmo com um grupo de nabos? Que é mais especifico que grupo adverso. Pressupõe já que se conhece as pessoas em causa e que são nabos. Mas chamar nabos a um grupo de pessoas é feio, cai mal. Pressupõe maledicência. Que é, por um lado, coisa de que não queria impregnar o texto e, por outro, porque este nabo de que falavamos é uma pessoa que tem aspecto de nabo, mas que por falta de querer, nunca nós o conhecemos de uma conversa maior que Olá e à qual, portanto, nunca demos a oportunidade de se revelar. Cada um de nós deve ser considerado nabo para, pelo menos 100 mil pessoas. A ideia de funcionar como filtro é de pura introspecção. Não é pergunta que se faça na cantina da empresa aos tais nabos...
Quanto à parte do trabalho o que queria dizer é o que foi. Que tive já a experiência de trabalhar com um grupo de pessoas, de idades diferentes entre si e onde à partida, pouco de comum se encontraria entre todos nós. Terá sido das melhores experiências de trabalho que tive. Parece que a imposição de um relacionamento de longo prazo nos traz mais predispostos, esforçados e inventivos na busca de afinidades. Daí que tenha dito que "em extrema necessidade, arranjam-se afinidades onde à partida não existiam."
Parto sempre do princípio que um nabo, qual sapo em príncipe, se transforma em pessoa aceitável no circulo pessoal quando lhe é dado os devidos tempo e palco! A vida tem-me ensinado que nem sempre é assim... É ir tentando...
Continuo a viajar. Com nabos não sei o que mais faria. Talvez já precise de um Domingo para pensar...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Das coisas que faria com um grupo adverso

Começou por aludir-se a "um grupo de nabos". Mas como não é elegante... Leia-se a seguir: Em conversa casual, ousou perguntar-se-nos, assim mesmo, que tarefa/experiência arriscariamos conscientemente mesmo que acompanhada por um grupo de pessoas com o qual não temos afinidade pessoal.
Fiquei fascinada com a pergunta. É uma forma excelente de auto-exame. Há anos quando comecei a longa jornada de fazer o CV, entrei em pânico. Quando chegou a parte dos hobbies, bloqueei radicalmente. Não me lembrava de qualquer hobbie que fosse "curriculável" até perceber que "todos" o são. Teria sido uma boa questão a colocar, na hora. O Francisco, por exemplo, iria jogar futebol, mesmo com um grupo de pessoas sem qualquer afinidade pessoal.
Para se fazer qualquer coisa voluntária, mesmo com um grupo sem afinidades pessoais, deve ser uma coisa de que se goste mesmo muito. Assim separa-se trigo do jóio. O que se gosta muito e o que se gosta mais ou menos.
Mas trabalhar, por exemplo, é coisa que não nos importaria. Um grupo atroz desmotivaria, certamente, mas aqui a questão é introspectiva. Eu aceitaria voluntariamente esse trabalho? Sim. Parece que, em extrema necessidade, arranjam-se afinidades onde à partida não existiam.
O ser humano é estranho! Eu viajaria, por exemplo, mas com a condição de que fosse a um sítio novo! Tu, o que é que farias?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

D'Um ano visual

Um ano, uma foto.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

D'Um negócio à antiga como me ensinaram

Hoje parece que tudo é difícil. Quando oiço os pais falar fico com a sensação de que antigamente, p'los 70 e 80s, era possível transformar qualquer coisa em dinheiro liquído. Apesar de pouco. Foi com essa ideia na cabeça que, com a Lurdes, companheira de jornada do Inov, tivemos a brilhante ideia de montar uma barraca de cerveja no Nazo. A festa do Nazo é aquela porque todos os Mirandeses, Sandinenses e malta das redondezas espera. É a festa das festas das Terras de Miranda. A 14 kms de Miranda logo a seguir à Especiosa, está a Nossa Sra. do Nazo. Vai de falar com os fornecedores, acertar o aluguer da barraquinha da Super Bock, fazer pipocas e juntar amendoins para que os pratos não voassem com o vento, e transportar 2 mesas e 8 cadeiras, que os clientes, a esses queriamos dar condições para apreciar a bela cevada fermentada. Está feito. Foram umas "férias" bem planeadas, 5 dias de muito trabalho, 2 mulheres e um negócio. E um nome: L Barracon Oufecial (mirandês para a barraca oficial). O lugar da barraca não era o mais previlegiado, ao lado do palco, bem lutamos por um melhor mas já estavam todos prometidos aos barraqueiros assíduos. Mas o que parecia um ponto fraco revelou-se uma Oportunidade! Por aí perto, ao lado do 2º palco, instalaram-se os ciganos. O meu convivio com a raça cigana era nulo, até então, e o pouco que sabia eram as histórias sórdidas de amizade ao alheio. Não posso negar uma apreensão inicial, um certo medo e um olhar redobrado à caixinha do dinheiro. Perante a contrariedade, achamos que um tratamento distante mas simpático seria o ideal. Correu bem. Além de trazer uns trocos, os ciganos devolviam-nos a cordialidade que ofereciamos. Longas teorias desenvolvi durante esses 5 dias sobre a forma como encaram a família, o dinheiro, as crianças... Grande lição de abate ao pré conceito! Os barraqueiros contíguos eram nossos clientes assíduos, de raro lhes parecer o nosso projecto! E acabava-mos as noites, depois do L Barracon fechar, nas elaboradas barracas a comer belas tapas e cavacar com as maltas jovens de Miranda! Afinal eles viam naquilo (de abrir uma barraca na festa) o mesmo que nós - uma forma de convidar os amigos para uma cerveja sem ter que a, necessariamente, pagar! L Barracon Oufecial aqui e aqui.

domingo, 9 de agosto de 2009

Da loucura consciente do self-herói

Tenho um grande sentido de apreço pela personagem criada e entitulada de Salvador Dalí. Antes do artista, tecnicamente brilhante (admito que alguns não gostem da sua estética mas a técnica é inegável), havia o homem cuja profissão era ser marketeer de si próprio. Fabricou meticulosamente sobre sí, uma imagem de louco lúcido, de génio excêntrico que, sabia ele bem, era isso o surrealismo. Auto nomeou-se Avida Dollars, trocando as letras do seu nome. Abafou, sem dó, os demais surrealistas. Dizia ele, sem pouca verdade, "a única diferença entre um louco e eu, é que eu não sou louco". A sua loucura era bem consciente. Uma frase sua que o revela como estratega e publicitário da sua imagem dizia mais ou menos isto: "Quando estou no meio dos surrealistas digo bem alto - Tenho que ir, vou ter com os aristocratas.- e quando estou no meio dos aristocratas digo - Tenho que ir, vou ter com os surrealistas." Aproveitava-se, assim, da falta de liberdade de circulação entre os dois mundos... A verdade é que com ou sem o peso da sua bem montada estratégia de marketing, Dalí deixou obra notável. Sempre actual e despolitizada, mais ainda quando analisada à época da sua realização. Tenho para mim que, antes de Warhol e Liechtenstein, Dalí inventou a Popart, trazendo para a ribalta objectos do quotidiano e figuras populares como a garrafa de Coca Cola ou a cara do Lincoln (melhor vista a 20 mts). Também tenho para mim que, não sei onde é que o arranjou, mas Dalí já tinha um computador equipado com AUTOCAD! Ver Dalí aqui.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Da camera, da cor, da arte

Hoje uma foto....

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Do Sócrates e dos povos que não lavam no rio

Há dias Sócrates alinhou na blogconf e foi responder a 20 bloguistas nacionais. Uma das suas teorias deixou-me indignada pela proximidade aos factos... A Tomás Belchior da Ruadireita filosofava Sócrates, com um ar de gozo incrível, sobre a Irlanda e a sua situação de contas públicas arrasadoras (e nós que a tínhamos em tanto respeito!) e sobre as medidas aplicadas pelo governo. Indagava Sócrates: "Como é que um Governo, perante a situação actual, chega à Câmara dos deputados para rectificar o Orçamento com duas medidas, e únicas, apenas: aumentar os impostos aos trabalhadores e diminuir os salários dos funcionários público? É obra.." Ora, pergunto-me, como é possível? E respondo. Que isso se consegue (não sem oposição política) quando se governa um povo que não faz da crítica gratuíta modo de vida, que confia no outro (nos políticos) como se o mundo fosse mesmo uma "aldeia" (que os vendedores de biblias ainda não descobriram) e, um povo ciente que os seus bolsos recentemente recheados de euros iam um dia romper com o peso... Também, qual era a alternativa? Se o Governo mexe-se com as empresas, maioritariamente investimento estrangeiro que se aproveita da única vantagem competitiva do país (baixos impostos) elas davam todas ao slide! Posta esta mescla e com os olhos postos nos países do Norte, onde a confiança e a apatia política abundam, fico com dúvidas. E penso que importa perguntar: Governa melhor um Governo que sabe governar ou um Governo que governa um povo que se deixa governar?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Do ser, do estar, da moral

Desde a superioridade monetária, à de conhecimento, à relacional, à moral, toda a gente tem uma espécie de superioridade eleita que a faz mover e dá jeito sacar aquando de uma conversa (in)formal. E em direito estabelecida. Para mim, faz sentido. Cada qual tem de se fazer valer psicologicamente dos seus pontos fortes para ter sustentabilidade social. Algumas das superioridades são bem toleráveis, principalmente se consistentes e bem arquitectadas. Mas, se há que escolher a superioridade mais irritante, escolho, de longe, a superioridade moral. Porquê? Acredito que é superior ser moralmente bem apetrechado mas, sendo a superioridade um superlativo, só tem sentido em termos de comparação. É precisamente esse o ponto de inflexão! É que, não raras vezes, a pessoa moralmente superior cai no erro de colocar na escala, comparar, a sua moralidade com a dos outros! Salvo as devidas excepções, o resultado dessa comparação toma a forma de crítica. Mas crítica não assumida já que de moralidade se trata! Que piora quando o objecto da comparação é bem definido e direccionado! No fundo o que torna esta superioridade diferente das outras é a falta de legitimidade: afinal o que é a moral?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Do elogio e da loucura

"Sem liberdade de criticar, não existe elogio sincero." (Pierre Beaumarchais)

Voltando à infância. Uma rotina mais ou menos semanal que tinha era ir com o meu pai levar a mãe ao trabalho e passar pela papelaria Contraste, onde o meu pai comprava o Comércio do Porto e eu Uma Aventura. Depois ficava no carro até ao meio dia ou até que a aventura acabasse. Era tal o prazer que retirava daquelas letras que um dia resolvi enviar uma carta à Isabel Alçada e à Ana Maria Magalhães. Foi por ventura o primeiro elogio que fiz. Não falo do elogio social, do que fica bem. Falo do reconhecimento de que alguma coisa que nos dá prazer deve ser frontalmente reconhecida. Não na perspectiva ingénua de que esse elogio possa mudar alguma coisa mas para dizer que eu que estou aqui sou o teu público, eu gosto do que fazes! E ir directo à questão e à pessoa. Ultimamente elogiei a Joana Vasconcelos pela sua obra, os criadores das 7 maravilhas dos Portugueses no mundo, os criadores da La.Ga bag... todos portugueses, todos criativos, todos originais... O elogio é uma prática que aconselho. Despretencioso. Com ou sem crítica. A título de incentivo aos mais cépticos devo dizer - o elogio tem sempre resposta.
Quanto àqueles com quem tenho o privilégio de privar a história é outra. A palavra falada não é o meu cup of tea...! Mil desculpas e a promessa prometida de lhes criticar (frontalmente) os defeitos por lhes não ignorar as qualidades...
Um elogio aqui.

domingo, 2 de agosto de 2009

Dos números, do Siza, de Nietzsche

Idas vão as aulas de ciências sociais onde se repetia, entre outras, a ideia de que as ciências (sociais) não se querem sozinhas, isoladas em compartimentos estanques, alheadas dos progressos da demais - deviam ser interdisciplinares. Mais tarde, no bom tempo de Miranda, conheci o Jorge. O Jorge estudou arquitectura, adorava matemática e por circunstâncias da vida, fechou-se um dia no quarto a ler filosofia. Esteve lá cinco anos. Apesar de não ser arquitecto nem matemático nem filósofo, o Jorge gosta de produzir. Arte. Faz arte com essas três disciplinas na cabeça. E que bem a faz. Um dia mostrou-me que tinha inventado um sólido que não existe (Dodecaedros) e uma sucessão que, resolvida, concluia que um número é diferente do próprio número. É complicada de perceber esta arte do Jorge. São precisas largas horas de boa concentração de tão abstrata que se torna a questão... O propósito de trazer aqui o Jorge é o de que ele é a prova provada dessa interdisciplinaridade. De que as disciplinas solitárias parecem cada vez mais vazias de conteúdo. Tendem a especificar-se. Bolonha pareceu-me ser a operacionalização dessa quebra de paradigma. A saída do armário da interdisciplinaridade. Presa que esteve nos gabinetes académicos. Talvez esta seja a verdadeira revolução cultural do século actual... A ver vamos!
Obras do Jorge na incomunidade
aqui.

sábado, 1 de agosto de 2009

Da credibilidade das fontes e outras formas de ver televisão

Não há tantos anos assim, conheci a Liana, de Biana (que em Viana assim se diz Liliana), que tinha um tique de personalidade incrível. Enunciava exactamente com os mesmos gestos, a mesma entoação, o mesmo olhar, algo lido na Enciclopédia Larousse ou na secção Ele e Ela da revista Maria, algo escutado nas aulas do Professor António Fidalgo ou apreendido nas tardes da Júlia. Exactamente igual! Era incrível como aqueles olhos azuis, cheios de expressividade e confiança, nos tentavam a seguir um caminho que nunca sabiamos onde ia parar. Na mesma época, no café onde todos os dias iamos tomar o devido depois de jantar, a Dona Ester dizia repetidamente: "Pois ele dizia as verdades! Mandaram-no embora! Claro!" para se referir ao facto de o Marcelo Rebelo de Sousa ter saído da TVI como comentador. Também, nessa época a TVI fez uma reportagem sobre um menino do Interior que era pastor e tinha como sonho ver o Estádio da Luz. Apelo que a própria não podia negar e baita de bombardear o Jornal Nacional com a reportagem como se de uma notícia real se tratasse. Não raras vezes ouvi a Dona Ester, referindo-se a essa reportagem, dizer: "Este é que é o país real!". Não censuro, nem o podia fazer. São conhecidos os números da vertiginosa produção de informação actual. Talvez esteja na hora de informar que o que aparece na Maria e no Telejornal obedece a uma série de critérios que nada têm a ver com a genuina vontade de informar; que, assim queiram as Novas Oportunidades, e a Dona Ester aprender a navegar na web, o que encontrar na respeitada Wikipédia nem sempre é de fiar; que os sítios com blog no nome, não são mais que opinião pessoal (ahhhh!); que os livros e os jornais não têm todos o mesmo valor (ainda que ler faz sempre bem!) e que os comentadores políticos da televisão não são um Deus bem falante, mas sim uma argumentação relativamente bem informada na defesa das crenças e interesses pessoais. Até dói, D. Ester! Quanto à Liana, arranjou-se solução! Solução essa que foi bem aceite por ela e que melhorou a nossa comunicação (ainda que só por uns meses). Sempre que arregalava os olhos azuis, brilhantes, plenos de quem vai dizer uma verdade absoluta...Stop! Pára aí! Pára. Onde é que leste isso? Ok. Podes continuar...


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