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quinta-feira, 30 de julho de 2009

Do pop yankee way

- Ohh Brad, I broke a nail!
What does Obama think about that? On the news, tonight!

(ver imagem em http://thingsicantdeny.blogspot.com/2009/07/realities-i-cant-deny.html)

A informação é como as carteiras Louis Vuitton. E todas as tendências de moda. Quando chegam aos lugares recônditos, através da feira, são já uma imitação tão desconfigurada, que quase irreconhecível. Quem aí as compra não sabe quem é isso do Louis Vuitton e das tendências. Está na moda. Pronto. Ponto! A informação faz um percurso idêntico nos media. Sai do investigador ou da "fonte", vai a livro ou revista, passa pelos jornais, radio e TV, é filtrada, passa de boca em boca, de vizinho em vizinho, é refiltrada, na blogosfera, na rua, em casa, na varanda, novo filtro, no piquenique, na ceia, no almoço... e se tiver suficiente calibre mediático chega mesmo às tardes da Júlia e às páginas do 24 horas. Se lhe falta mediatismo mete-se numa misturadora de cozinha, acrescenta-se um VIP, uma música deprimente, mistura-se bem e Voilá! Pouco se vislumbrará da informação original. É muito mais importante saber o que o Obama pensa dela...
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

De ser português e outros orgulhos imediatos

Estás a falar com um estrangeiro e desconfias que por ventura esse estrangeiro já falou no passado com, pelo menos, um português? Anda daí! Vê a lista de coisas que NÃO lhe deves dizer:

a. Que os portugueses são os melhores e já tiveram, literalmente, meio mundo;
b. Que falamos todos um inglês muito bom e que os espanhóis, os franceses e os italianos comparados connosco no Inglês, são pura standup comedy de sábado à noite na tv;
c. Que todos os portugueses percebem Espanhol e o contrário não acontece;
d. Que tivemos uma revolução pacífica e Salazar era boa pessoa, comparado com Franco e Mussolini;
e. Que não temos os filmes dobrados e conhecemos a verdadeira voz dos actores de Hollywood;
f. Que consumimos muita música estrangeira e somos culturalmente muito à frente;
g. Que Cristovão Colombo é português;
h. Que o Figo, o Ronaldo, o Fado e a Paula Rêgo são portugueses;
i. Que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, é português;
j. Que o ponto c. se deve à nossa inteligência;
k. Que o ponto b. se deve ao ponto e. com a ajuda do ponto j;

Não é que não sejam tudo puras verdades, que o são! Do mais verdadeiro que há! Poria as mãos no fogo por elas! É que isso, o pobre do estrangeiro já saaaaaaaaaabe! E, por outro lado, não faltam nobres causas nacionais, diversas destas e bem capazes de encantar a não lusa alma internacional! Tipo:

l. Que os chapéus de Public Enemies são produção 100% portuguesa;
m. Que toda a roupa de quarto e WC usada na casa de Hugh Hefner é made in Portugal;
n. Que a bandeira da América que espetaram na lua foi cosida à mão por uma portuguesa;
o. Que o rei Juan Carlos janta bacalhau num restaurante Transmontano em Madrid (para relembrar o sabor do exílio em Portugal!);
E, por último, tcharan!
p. Que a raça do cão de Obama é de origem portuguesa!

Ummmmmm! Se calhar, também não íamos por aí...

Do patriotismo bacoco e da lusa contradição

Quando chegar o dia em que ouvir um português dizer: "Nós somos os melhores" sem o "mas" à frente, ofereço-lhe um bacalhau. Um cálice de vinho do Porto a esse português! Está prometido. Nós somos os melhores, "mas"... Ei, pára aí! O que é que ias dizer? Está la caladinho. "Mas", o quê? Otário! Os portugueses gostam mesmo de se criticar, é uma coisa... É como os franceses mas sem a parte do humor. Há dias vi uma entrevista do Miguel Esteves Cardoso e descobri que ele só podia ser português. Não há hipótese! É que depois, há esta coisa da moda de elevar a moral às tropas, e Portugal é que é bom, e inventamos a via verde e tal, e o cluster da cortiça, mas...mas... não conseguimos! Parar pelas coisas boas, seria morrer. Dizer apenas bem de Portugal é como ir a Roma e não ver o Papa. É uma alma bacoca, um português que não mostra que sabe analisar! Que não saiba analisar e enunciar bem alto o produto da sua análise! E para analisar o país estamos cá nós! É como que um começar por dizer o que parece bem e ir depois vorazmente à opinião verdadeira, que depois do "mas" é que a conversa começa a aquecer! A entrevista do MEC foi isto que me suscitou. God knows como eu gosto da crónicas do MEC, mas MEC! Caramba! zzzzzzzzzzzzzz Bem... a culpa não é do MEC. Dou por mim, muitas vezes, a não conseguir evitar o "mas". Se bem que no estrangeiro o "mas" tem muito menos sentido. Parece que o fashion sentido patriótico que queremos imputar ás tropas é vazio de ideologia, que muito há a fazer para que a mudança de mentalidade seja efectiva. Talvez pudessemos começar por irradicar a palavra "mas" do dicionário. Retirem-se o "mas" e todos os designativos de oposição do Diccionário da língua portuguesa!

Portugal é um grande país, mas tem que aprender a gostar genuinamente de sí.

Passo a contradição. Correcção: Portugal é um grande país. Ponto final. Yes!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dos crimes dos padres e outras confissões religiosas

Lembro-me que o primeiro texto original que fiz ia por volta dos 14 anos. Não consegui evitar tal era a fúria que sentia para com um Deus que não tinha ousado questionar até então. Tinha morrido o Ayrton Senna! Não que eu gostasse de Fórmula 1. Não consigo até hoje explicar essa fúria. Talvez se devesse às páginas massivas da Super Jovem que se ocupavam do facto. E a Super Jovem para mim era deus! Essa e as Bravo e Popcorn alemãs, que me levaram a crer que um dia aprenderia alemão por osmose, só a olhar para as legendas das fotos do BonJovi e do Axl Rose... Isto foi a 1 de Maio de 94. Dias antes, a 5 de Abril tinha-se suicidado Kurt Cobain. Era demasiado... Que Deus era aquele que permitia passivamente esses actos indeléveis? Por coincidência, por essa altura (ou uns meses depois) comecei a ler O primo Basílio e depois O Crime do Padre Amaro. Devia estar tão entediada na terrinha que me deliciei, na altura, com as novas descrições e tão exactas, de um Portugal antigo que me ajudava a perceber o de agora. Lembro-me do espanto de perceber que ja no século desanove se reclamava em todas as direcções: contra o país, os políticos, a política! Não haverá por ventura, pior altura da vida para ler estes dois. Foram anos de catequese e educação católica por água abaixo. Não estou a brincar nem a a alinhar em mediatismos. A verdade é que estes quatro factos da minha juventude, ocorridos naquela altura da vida, me transformaram na pessoa mais céptica e voluntarista (por oposição a dogmática) que conheço. Começo a perceber aquela cena, coisa e tal, efeito borboleta, não é?

Do tempo e outras odes à idade

Recurrentemente volto à infância e recordo com nostalgia esses tempos de ignorância... feliz.
Depois acordo para o que me rodeia e a idade, ah a idade! Se por um lado acreditei, naquelas frases convictas de miúda de que a "sabedoria é inimiga da felicidade" por outro, olho agora para o passado e que bem me sabe... ter pontos de referência que me pemitam interpretar as mensagens que há no ar! Que bom foi ter tido tempo - o tempo, para aprender, pesquisar, buscar... Cada ano tem ditado em mim um crescimento pessoal inquestionável. A idade tem destas coisas. A idade é um posto...Viva a idade! Todos os provérbios sobre a idade são verdade. E as frases feitas e as dos grandes filósofos! Se ter idade é isto eu quero ser velhinha! É preciso ter idade para ter tempo de ter passado! De ter armas de defesa pessoal. Contra os exércitos de germes e ácaros que povoam qualquer alcatifa! Ter tido uma rotina. Momentos depressivos. As perdas, as falhas, os erros, os ensinamentos dados pelos erros e pá! (Sobre)Viver a todas as contrariedades. E aprender sobre elas que a vida perfeita, aquela que é mesmo, mesmo, mesmo perfeita, mesmo, mesmo, perfeita, nunca chegou a sair dos estúdios de Hollywood, onde ficou presa pelo excesso de ambição do produtor. Que nos faz perceber que o que nos basta e faz rir, está numa família nuclear, um gato, uma máquina fotográfica, meia dúzia de bons amigos, acesso à internet, dois Ventis e lume. E, o sentido de que há alguém que zela atentamente pelos sentidos deste alguém que escreve. Esse sei bem quem é: um sentido único, um artigo bem definido...

Do título do blog e seu respeitado autor

Espero um dia poder chamar a isto desvio. Por ora, a minha conta bancária só ainda me permite roubo. Roubo e duplo. Primeiro surrupiei o Cesário Verde, que me foi apresentado nas aulas de português b. Que quem escolhe ir para as empresas não precisa de categoria a em português. Impressionou-me o Cesário e as suas descrições peculiares em "Sentimentos de um ocidental". O segundo roubo que fiz foi à Maria Filomena Mónica que editou "Sentimentos de uma Ocidental (Os)", em crónicas muito suas e que consumi deliciosamente. Roubo este mais descarado mas, se há que argumentar, ora cá vai. Primeiro para a MFM: "ladrão que rouba ladrão...", segundo, para os dois: comprei ambos os livros, versão original, preço de editor. Ora se o título está incluido no livro, comprei o título também. E se comprei é meu. E se é meu, posso usar! I rest my case! (diria com o queixo levantado e ar de superioridade!) Mas não. Não é mais que uma apropriação carinhosa de dois autores que aprecio, aliada a um título muito bom e que descreve bem o que são as letras que qualquer um dos três lança ao papel: Não são mais que sentimentos perante o mundo, interpretados por Ocidentais. Sentimentos de perplexidade perante o nosso mundo - o Ocidental e logo, perante a modernidade num contexto mais lato. Mas essa análise deixo para MFM, se não a fez já...

domingo, 26 de julho de 2009

Da numerologia e outras ciências afins

Aviso já que o que se segue nada tem a ver com numerologia. O conhecimento que tenho de numerologia não me permite ir muito além da informação contida no título: chama-se numerologia e há quem lhe chame ciência (que eu sou como o São Tomé, é ver para crer). Não. O que me motiva realmente neste escrito é a importância dos números na difusão da informação. Estudei Marketing e ao longo dos últimos anos muitas teorias se me formam na molécula que estão mais ou menos relacionadas com ele. Uma muito pouco relacionada, por exemplo, é a teoria de que existe proporcionalidade estatística entre o domínio da ferramenta Outlook e a ascensão na carreira (leia-se carreira empresarial). Mas sobre isso falarei num dia em que me apeteça. Sobre os números. Tenho para mim que são uma arma fortíssima quando a intenção é divulgar, passar informação. Números e termos superlativos. Há tempos, precisava de comprar candeeiros. De tecto e mesa. Fui então guiada pelo meu irmão ao que, ouvira, era a maior exposição de candeeiros da Europa com 3000 metros quadrados de exposição. Estas foram as duas únicas informações que guardei da experiência: maior e 3000 metros quadrados. Vamos então reportar a uma comum "conversa de café", que é onde o passa-palavra acontece. Que impacto teria se chega-se lá o líder do grupo (das conversas de café) com "Fui a uma exposição bué da grande, espectacular, mesmo fixe!" comparando com "Fui à maior exposição da Europa de candeeiros, 3000 metros quadrados, espectacular!"? Ou "Este tarifário é mesmo barato, aconselho!" comparado com "É o tarifário mais barato que há no mercado, 12,99 € por mês!"? Este exemplo pode extrapolar-se para tudo o que tenha a ver com difusão de informação: o boato, a mensagem publicitária, a gabarolice pessoal... Parece que o cérebro capta, processa, coloca numa escala, associa, tira ilacções e, mais importante, retém, com mais facilidade. É como se lhe oferecessem associações neuronais gratuitamente. Tudo isto terá, certamente, que ver com a assertividade, a objectividade e a mensurabilidade da informação que se passa. Valores estes que, é do domínio geral, ajudam o receptor da mensagem...
De facto a maior exposição de candeeiros da Europa era grande mas não era grande merda... ( há que ter cuidado para não gorar a expectativa!). E, só para testar, quantos metros tinha a exposição? Haaaaaaaa, viste? Este é um bom exercício de se fazer e comprovar: inventar um boato. Mas, um bom boato! Que é um "Este blog é muito bom!" comparado com "Este blog, é o mais visto da blogosfera Portuguesa (Brasil incluído) com 2 milhões de visitas diárias"? Laugh out loud!

sábado, 25 de julho de 2009

Da voz de Amália e outros pensamentos idiotas

Não sei se perdoar a geração dos meus pais por nunca me mostrarem a Amália dos seus tempos áureos. Bem vezes me perguntei, durante a minha juventude, porque é que toda a gente (os mais velhos) gostava daquela voz rouca, regular. Algumas ideias que apanhei no ar, nessa época, tratavam até com despeito o seu feitio de mulher do futuro. E, eis que me encontro na Irlanda, com uma vontade ávida de cultura portuguesa e o YouTube diante das orbitas oculares. Thank god there is YouTube! Lembro-me de começar pelo óbvio e badalado "Povo que lavas no rio". Nota 8 em 10. Passo depois para uma "Gaivota". Aquela em que a Amália canta, num serão em sua casa, com o Vinicius (que apresenta a canção), o David Mourão Ferreira e a Natália Correia, entre outros. Não fiquei particularmente excited. Passei, então, para "Nem às paredes confesso" e aí, sim. Decidi, imediatamente, que se devia proibir por lei a sua reprodução, noutras vozes. Insisto nessa ideia. E continuei, por aí fora, cada vez mais para o passado, a descobrir Amália, a ver as entrevistas, os filmes em que participou, os programas... Descobri que, além da voz, o sucesso dela se deveu à sua personalidade. E, compreendo, agora porque tinha tantos seguidores e em tantos países. A sua simplicidade dá vontade de idolatrar, como a um deus. E dá, também, uma vontade incontrolável de a divulgar. Comovi-me, como qualquer português, com o seu sucesso "lá fora" e ouvi, vezes sem conta, a sua música - o seu "Summertime". Agora, não passo sem uma "Gaivota" diária (a dos The Gift também me satisfaz) e mais que perdoar, vou relembrar aos meus pais a história de Amália feita pelo meu olhar...

Da procura da Diana e outras considerações menos importantes

Não são muitas as vezes, mas acontece! Conhecer alguém com quem se tenha uma empatia absoluta e dá mesmo gosto e vontade de conviver! Aconteceu com a Diana, por exemplo. Conhecemo-nos na Covilhã, vivemos na mesma casa por uns meses, mas por motivos muito dela resolveu não continuar naquelas paragens, que a tinham encantado nas primeiras visitas, e foi estudar para o Porto. Isto vai para 8 anos e, como o tempo voa! Nos poucos meses que convivemos levou-nos a visitar Fernão Joanes. E que bom era ouvi-la falar da transumância e das cortes e das estátuas que, com os colegas da Soares dos Reis, tinha instalado alí, mesmo no meio das cortes, nas eiras de Fernão Joanes. Lembro-me também da paisagem que nos levava alí, de uma Beira Interior lindíssima que nada tinha a ver com as fotografias que nos vendem nos jornais. Também recordo as cores da planta das sete sangrias, que se encontrava apenas na Serra da estrela e na China, que desenhou na parede do quarto, com 3 quadrados de ouro a lápis) e cuja história ela tão bem sabia contar. Nesse verão fomos à Zambujeira, Diana incluida, e que grupo repleto de sensibilidade e boa disposição. Depois disso encontramos-nos uma vez. Num cafezinho em frente ao coliseu do Porto, onde íamos juntas ver a Beth Gibbons!Nesse dia conhecemos a sua casa e família para os lados de lá do Douro. Ponto final. Fim de capítulo. Nem uma direcção de email ( perdida, seguramente). Hoje como várias vezes no passado tento encontrar pistas com a minha habilidade googliana e voilá! Consegui achar os apelidos! Já tenho o nome completo! Lembro-me vagamente que ela preferia o apelido do pai ao da mãe mas, mesmo assim, não consigo mais nada! Tentei googlar e social networkar com o nome, um e outro apelido, os dois apelidos, as escolas, a terra, os interesses e, nada! Tento recordar pistas que iluminem este caminho, mas não. E eu que tanto elogio as capacidades do google! Cheguei mesmo a chamar-lhe a melhor invenção do homem em ex aequo com a roda...Depois de algum tempo de uso começei a ganhar percepção do tipo de informação que se pode ou não encontrar no googlismo e no downlaodismo! Algumas regras são: 1-Proporcionalidade ao mediatismo, quanto mais mediático mais informação existe. 2-Proporcionalidade inversa à antiguidade, quanto mais antigo, menos informação, a menos que se verifique a primeira regra!3-Proporcionalidade inversa à "pessoalidade", quanto mais pessoal é a informação mais rareia nas passagens "googlianas", desde que não seja de interesse pessoal a sua difusão. Ia lá agora encontrar a Diana com Diana+apelidos+Thievery Corporation ou Diana+Gotan Project (Banda que muito lhe agradeço a apresentação) mas o que é que isso tem de mediático, recente e impessoal, para ser colocado na Internet! Quanto às redes sociais, a história é outra...mas aí, nem vou entrar. Talvez nas próximas férias me apresente à porta da Diana para lhe dizer "olá"!
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Do iniciar os títulos com artigos definidos e outras ponderações linguísticas

Sempre tive o sonho de iniciar o título de alguma coisa com Do, Da, dos ou Das. Eh pá! Parece-me bem, não sei o que é! Cheguei mesmo a iniciar alguns emails assim mas não correu bem e apaguei! Agora num post de blog... Não sei porquê mas fica mesmo bem. E, como explicar a um estrangeiro o significado disso?
Tenho a sina de lidar diariamente com nativos (e não só) das duas outras línguas que aprendi, inglês e espanhol, e deparo-me por vezes com situações linguísticas e culturais inusitadas. Qual é o ponto em que alguém pode dizer-se fluente num idioma? Quando percebe o interlocutor e se faz perceber. Até aí, consigo esboçar o desenho.
Mas qual é o ponto em que se domina uma língua como se da materna se tratasse? Quando se entende o seu humor, há quem diga. Por um lado, aceito, mas por outro... Como é que vou eu explicar a expressão "chapéus há muitos, seu palerma!" a um estrangeiro? É que além do que é explicável, numa qualquer expressão popular existem uma data de conceitos e associações se se podem criar que pertencem ao ideario colectivo de uma cultura e são irreproduzíveis noutras línguas. Algumas das coisas que se apreendem do intercâmbio de culturas e idiomas são contraditórias como, pedir mais informação e a contenção. Por um lado querer saber interpretar com a maior precisão o que nos dizem e o que dizemos, por outro, deixar de usar esta ou aquela expressão que tão bem caía naquele contexto para evitar explicar o que é inexplicável. Estar com portugueses no estrangeiro funciona, neste contexto, como uma terapêutica. Também esta contraditória. Por um lado o "repúdio" de uma hierarquia de valores bem conhecida e, por isso, criticável; por outro, o à vontade linguístico com que nos entendemos deixando escorregar tiques de "verdadeiro eu" que vão tornando as relações mais profundas e cheias de sentido. Em que ficamos? "Corta a nespereira, não corta a nespereira..."
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Da profundidade da existência humana e outras coisas que se podem comprar numa loja de roupa

É agora que vou comprar as calças! Fui.
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Do voyeurismo da janela grande à leitura do Harry Potter

Ter uma janela grande bem no centro de uma qualquer cidade é indiscutivelmente Grand! É estar em casa pensando que estou na rua e por isso não ter que sair por dá cá aquela palha, "apetece-me ver pessoas"! Longe vão os tempos em que, na Covilhã, ir ao centro era um acontecimento para durar longas horas, bastantes delas sentadas num banco de jardim a ver pessoas! Ah quotidiano que as matas! Num acto de beleza, certamente. A beleza da dinâmica quotidiana.
É, ainda assim, assistir a uma peça de teatro de dentro de casa. Onde os actores não sabem a fronteira entre a sua vida e o palco e onde a quarta parede sou eu.
É de sobremaneira bonito, ver como se pára na passadeira até instruções contrárias do bonequinho verde! Não vamos olhar, nem ver, nem pensar que a rua até está deserta em carros! Esperemos, antes pelas ordens dos bonequinhos verde e vermelho, à Portugal!
E não dissertarei aqui desse rectângulo, de longe que está da minha janela grande!
É também de ressaltar a indiferença com que as pessoas se cruzam da vista da janela grande. Podia aqui alinhar na perspectiva mediática de que a indiferença é má. Nas épocas em que a falta de mediatismo nos enche os olhos de notícias vagas e veraneias.
Mas não. Gosto dessa indiferença. Tal como de ouvir a Amália e ler o Harry Potter em frente à janela grande! É pena que as calças não possam vir ter a casa? Será que posso comprar online?

Da dificuldade de entender o surrealismo literário e pardais ao ninho

Venham mil Natálias Correia mais compêndios e explicações retrochique da literatura surrealista que eu vos digo: a pintura é que é!
Se vamos falar do Cesariny de Vasconcelos e do Vespeira, tudo bem. Mas tanta literatura surrealista, Natália? O que é a literatura surrealista, Natália?
Não são todos os poetas, escritores, criadores um pouco sub realistas, Natália? Agora construir uma onomatopéia Bang! é surrealismo, Natália? Não sei o que colocavas na boquilha, Natália, mas eu gosto de ti na mesma! E Gosto de te ler diante de uma janela grande!
Não posso decidir não comprar as calças ou fico no vazio! Por um lado fico sem calças por outro sem coisas para fazer que não me apetece e logo, ideias!
dasse!
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Da sedentariedade da minha geração e outras coisas

Ideia de liberdade livre e ideal seria, para mim, viver 6 meses em cada cidade europeia! Não peço muito, porque restrita à Europa, mas ainda assim estou consciente que teria que viver tipo, milhares de anos para que isso fosse possível.
Não conheço, até agora, um Erasmus com quem estudei ou convivi ou conheci,que tenha simplesmente regrassado ao seu país e bimba! ficar contente no sítio que o viu nascer!
Andar por aí "numa ânsia colectiva de tudo fecundar!Terra, mar, mãe..." Não sei o que se procura, o que se quer ou pretende. Tenho para mim que é uma busca do sítio ideal mas, temo, também para mim, que ele nunca chegue a existir.
É como uma canção diabólica, deambulante, onde a paisagem se quer sempre nova, sempre nova, e diferente... Onde as pessoas se querem sempre boas, sempre diferente e amigas...
Não é que seja particularmente bom que sejam amigas, já que se vão ter à distância. Parafraseando, de novo, o José Mário Branco: " não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe?"
Não sei. Mas creio que nos podemos encontrar enquanto nos encontramos fugindo. Não que me pareça essa a verdadeira razão da vida nómada que vamos adaptando ao nosso filme. Parece que, agora sim, vou comprar as calças!
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Dos Dias em que tenho coisas para fazer e não me apetece

Nos dias em que tenho coisas para fazer e não me apetece, geralmente, começo o dia mais cedo que o normal.
Acordo, tomo o pequeno almoço e penso no que tenho para fazer e não me apetece. Normalmente, durante o café penso também numa data de coisas, ideias e outras coisas que já tive que fazer no passado e não me apeteceu.
Ou não tive tempo, que é coisa que ocorre frequentemente. Aí, invariavelmente tomo um banho, que é coisa para 20 minutos, limpo a casa, que é coisa para de 2 a 3 horas, vou à internet por a coisa em dia, chego mesmo a passar a ferro algumas peças de roupa e penso.
Ummm, na (in)evitabilidade do que tenho para fazer e não me apetece. Nos dias em que a coisa que tenho que fazer não me apetece mesmo mesmo nada, chego a ter chuvas de ideias de milhares de outras coisas que podia fazer! Ideias mais ideias, algumas chegam ao papel. Quase sempre não vêem a luz do sol, que não seja numa ou outra mudança de casa.
Que isto de pertencer a esta geração, quase nos transforma em ciganos. Nómadas conscientes da sedentariedade eminente. Dah! Cruz credo, que chavão. Vou então comprar as calças.

Dos amigos à distância e outras particularidades

Não sei ter amigos à distância. É daquelas coisas com a qual me custa viver. Grande parte daqueles com quem tive o privilégio de cruzar e gostar, pouco sabem de mim que não seja num update bidiário e vago no facebook. Não é que seja a pior amiga à distância do mundo. A Ana, por exemplo, que não tem telemóvel, mal sabe o que é o hi5 e o facebook e tem por hábito andar descalça na rua, consegue ser menos amiga à distância que eu. O primeiro email que enviei para a sua caixa de correio com o nome pessoalissimo e_m_p_a_t_y2k@hotmail.com (fictício) obteve resposta passado um ano ( Ufa! era correcto, não perdemos contacto!) e a probabilidade de ela algum dia ler esta nota está muito, muito perto do conceito do limite que tende para zero. Ainda assim, penso nela e no que estará a fazer. Divago, com o maior e menor conhecimento que tenho de cada um dos meus amigos à distância e idealizo a sua vida actual como um sonho. No qual eu não entro, é certo. Que não seja à distância. Há dias em que "perco a cabeça" e lá me tento a escrever um email a um ou outro, geralmente dias em que tenho algo importante para fazer que não gosto. Hoje, por exemplo, decidi ir ao TKMaxx (ou lá como se chama) comprar umas calças e não quero! Não me apetece!

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indagações, indignações, imbecilidades

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